Evolução da Qualidade
Evolução
da Qualidade
Voltando
no tempo, especialmente a partir da Revolução Industrial, com o desenvolvimento
das ferramentas de trabalho e dos sistemas de unidades de medidas, tanto na
Inglaterra quanto nos Estados Unidos da América, a Qualidade evoluiu até nossos
dias essencialmente através de quatro Eras, dentro das quais a arte de obter
Qualidade assumiu formas distintas:
Era da
Inspeção
Qualidade
com foco no produto
Era do
Controle Estatístico da Qualidade
Qualidade
com foco no processo
Era da
Garantia da Qualidade
Qualidade
com foco no sistema
Era da
Gestão da Qualidade Total
Qualidade
com foco no negócio Segue uma síntese de cada Era, destacando-se os aspectos
que mais as caracterizam.
A Era da
Inspeção
Qualidade
com Foco no Produto No final do século XVIII e início do século XIX a Qualidade
era obtida de uma forma bem diferente da obtida hoje em dia. A atividade
produtiva era artesanal e em pequena escala. Os artesãos e artífices eram os
responsáveis pela construção de qualquer produto e por sua Qualidade final. Com
o desenvolvimento da industrialização, e o advento da produção em massa,
tornou-se necessário um sistema baseado em inspeções, onde um ou mais atributos
de um produto eram examinados, medidos ou testados, a fim de assegurar a sua
Qualidade. A força-motriz do “Século da Produtividade” foram os conceitos
adotados por Taylor6 que atribuiu ao inspetor a responsabilidade pela qualidade
do trabalho. A conseqüência imediata deste estudo sobre os métodos gerenciais
foi a separação do planejamento da produção, baseada na concepção de que os
operários e os supervisores não estavam preparados para colaborar com o
planejamento. Taylor atribuiu a responsabilidade do planejamento a gerentes e
engenheiros, deixando aos supervisores e aos operários a execução das tarefas.
Até meados do século XX era raro uma empresa apresentar em seu organograma um
departamento dirigido à qualidade. Essa função era realizada por inspetores
específicos, mas eles estavam espalhados pelos diversos departamentos de produção.
Apenas algumas grandes organizações exibiam departamentos de inspeção final e
testes, que se reportavam, normalmente, ao superintendente da produção ou ao
gerente da fábrica. O sistema criado por Taylor obteve resultados
surpreendentes no que diz respeito ao aumento de produtividade e passou a ser o
referencial de produção para muitas empresas norte-americanas, espalhando-se
pelo mundo. Apesar da significativa contribuição de Henry Ford, o pioneiro da
produção em massa, essa talvez tenha sido, segundo Juran, a principal razão da
liderança mundial dos EUA, em termos de produtividade. O trabalho de Taylor é
fruto de todo pensamento cartesiano que dominou o mundo ocidental. A princípio
Taylor aplicou seu método aos departamentos de produção das fábricas. Posteriormente
seus seguidores estenderam o conceito para serviços. Aos poucos o sistema
taylorista gerou alguns efeitos indesejáveis devido à ênfase dada pela alta
gerência à produtividade. Supervisores e operários priorizaram a produtividade
e relegaram a qualidade a segundo plano. Nesta época, a inspeção estava
centrada no produto, o primeiro nível de complexidade. Durante a primeira
grande guerra, com o aumento da atividade industrial, surge a figura do
inspetor em tempo integral. Em 1922, a atividade de inspeção é formalmente
incorporada ao Controle da Qualidade sendo, pela primeira vez, a qualidade
vista como responsabilidade gerencial e independente8. Mas, ainda, a função do
Controle da Qualidade permanece limitada a inspeção. A atividade dos inspetores
se restringia a identificação e quantificação dos produtos defeituosos, que,
muitas vezes, resultava em medidas punitivas. Os fabricantes removiam as peças
defeituosas sem que fosse feito um estudo prévio sobre as causas. A criação dos
departamentos da qualidade gerou dois problemas básicos:
A Alta Direção das empresas concluiu que qualidade era
responsabilidade exclusiva do departamento da qualidade.
A Alta Direção se distanciou da função qualidade,
delegando-a aos gerentes, ficando cada vez menos informada sobre o assunto. Quando havia uma situação de crise, não
tinham os conhecimentos necessários, com presteza e confiabilidade, para adotar
as ações adequadas.
Esta
definição sobre o século XX foi feita por Juran em uma das últimas
apresentações no Congresso da ASQ. Ele diz que o próximo século será conhecido
como o “Século da Qualidade”, apesar dos esforços desenvolvidos desde o início
do século XX. A solução é, apenas, momentânea, por ser baixo o nível de
aprendizado adquirido nesta prática. Esta abordagem prevaleceu por muitos anos,
durante os quais a Qualidade era obtida através de inspeção, controle e
separação dos "bons" e dos "maus" produtos. Aos inspetores
cabia a tarefa de identificação e quantificação das peças defeituosas; estas
eram removidas e trocadas sem que se fizesse uma avaliação das causas reais do
problema para prevenir sua repetição. O objetivo principal era obter Qualidade
igual e uniforme em todos os produtos. Ênfase à conformidade.
Era do
Controle Estatístico da Qualidade
Qualidade
com Foco no Processo Hove significativos desenvolvimentos na década de 1930,
entre eles o trabalho de pesquisadores para resolver problemas referentes à
Qualidade dos produtos da Bell Telephone, nos E.U.A.. Este grupo, composto por
nomes como W. A. Shewart, Harold Dodge, Harry Romig , G. D. Edwards e
posteriormente Joseph Juran, dedicou boa parte de seus esforços em pesquisas
que levaram ao surgimento do Controle Estatístico de Processos. Com o
crescimento da produção, o modelo baseado na inspeção 100% torna-se caro e
ineficaz. Em 16 de maio de 1924, Shewhart, aplicando conhecimentos
estatísticos, desenvolve poderosa técnica com a finalidade de solucionar
problemas de controle da qualidade da Bell Telephone Laboratories: o Gráfico de
Controle de Processo, até hoje utilizado na indústria. Ao publicar um livro, em
1931, sob o titulo "Economic Control of Quality of Manufactured
Product", forneceu um método preciso e mensurável para definição do
controle do processo, estabelecendo princípios para monitorar e avaliar a
produção. Shewart, o mestre de W. E. Deming, foi o primeiro a reconhecer a
variabilidade, segundo nível de complexidade, como inerente aos processos
industriais e a utilizar técnicas estatísticas para o controle de processos.
Começa a se estruturar o estilo de gestão corretiva: identificar as causas
reais e agir sobre elas. Matéria prima, operador e equipamento são algumas das
fontes de variabilidade (causas) que podem apresentar variações no seu
desempenho e característica e, portanto, afetar o produto (efeito). O
conhecimento destas variações permite que a partir da sua quantificação e do
estabelecimento de limites estatísticos seja possível manter o processo sob
estado de controle. Através dos gráficos de controle de processo é possível
identificar, minimizar e, algumas vezes, remover as causas especiais de variação.
O advento da 2a. Grande Guerra Mundial exigiu que outras técnicas também fossem
desenvolvidas para combater a ineficiência e impraticabilidade apresentada pela
inspeção 100% na produção em massa de armamentos e munições. Neste sentido,
Dodge e H. Romig9 desenvolveram técnicas de amostragem, nos E.U.A., que tiveram
grande aceitação. Programas de capacitação começaram a ser oferecidos em larga
escala nos E.U.A. e Europa Ocidental, tanto referente ao controle de processo
quanto às técnicas de amostragem. O objetivo principal era controlar a
Qualidade através de métodos estatísticos . Ênfase ao controle da
variabilidade. Nesta época várias associações em prol da Qualidade começaram a
ser formadas e em julho de 1944 era lançado o primeiro jornal especializado na
área da Qualidade, Industrial Quality Control, que deu origem mais tarde à
revista hoje mundialmente conhecida, Quality Progress10, 9 In Garvin (1992). 10
Periódico mensal. editada pela American Society for Quality Control ( ASQC ). A
ASQC foi fundada em 1946 a partir da formação, em outubro de 1945, da Society
of Quality Engineers, tornando-se a "locomotiva" da disseminação dos
conceitos e técnicas da Qualidade no Ocidente de então até os dias de hoje.
I.1.3 Era da Garantia da Qualidade - Qualidade com Foco no Sistema Durante a
2ª. Grande Guerra os produtos destinados a uso militar tiveram prioridade no
que dizia respeito a instalações, material, mão-de-obra habilitada e serviços
de toda ordem. A produção de bens de consumo foi diminuída, incluídos os
automóveis e eletrodomésticos. Enquanto isso, os operários que trabalhavam na
produção militar, em muitas horas extras, fez aumentar o poder aquisitivo de
várias famílias. No fim da guerra, em 1945, os bens para a população civil eram
escassos. A prioridade máxima das empresas passou a ser, então, o cumprimento
dos prazos de entrega para garantir uma fatia maior do mercado, e a qualidade
dos produtos foi se deteriorando de forma escandalosa - um fenômeno que sempre
se repete em tempos de escassez. A falta de produtos atraiu para o mercado
novos competidores, cuja inexperiência contribuiu ainda mais para o declínio da
qualidade. Nos anos que se sucederam após a segunda grande guerra, ocorre
grande desenvolvimento tecnológico e industrial. Foram lançados no mercado,
novos materiais e novas fontes de energia principalmente a fornecida pelas
centrais nucleares, com seus requisitos tecnológicos bastante exigentes. Todos
estes fatores tecnológicos, associados ao aumento das pressões provocadas pela
concorrência, provocaram profundas revisões dos conceitos adotados e grande
reviravolta administrativa e econômica nos meios empresariais, bem como em toda
a sociedade. Entre 1950 e 1960 vários trabalhos foram publicados ampliando o
campo de abrangência da Qualidade.. Juran, em 1951, enfatizando a necessidade
de "evidências objetivas"11, propõe uma abordagem que torna
mensurável a qualidade de produtos e serviços, correlacionando-a aos custos de
retrabalho, mão-de-obra para o reparo, perdas financeiras associadas a insatisfação
do consumidor, entre outro fatores, definidos como evitáveis. Já os custos
inevitáveis foram associados a prevenção, inspeção, amostragem e outras
atividades ligadas ao Controle da Qualidade. A prevenção passa a ser adotada na
gestão dos processos produtivos tendo implicações positivas no nível qualidade
resultante, mensurado pela redução de desperdícios. Os quatro principais
movimentos que compõem esta Era são: A. A quantificação dos custos da
Qualidade; B. O controle total da Qualidade; C. As técnicas de confiabilidade;
D. O programa Zero Defeitos. A. A Quantificação dos Custos da Qualidade Os
custos da Qualidade12 foram abordados pela primeira vez por Juran na primeira
edição do livro Quality Control Handbook, em 1951, que buscava sinalizar aos gerentes
o impacto das 11 - “Informação cuja veracidade pode ser comprovada com fatos
obtidos através de observação, medição, ensaios e outros meios”. (ISO 8402,
1994) 12 A Norma NBR ISO 9000/2000 não define Custos da Qualidade. A versão
anterior NBR ISO 8402/1994 define-o como: “Custos incorridos em garantir e
assegurar a qualidade, bem como aqueles decorrentes das perdas, quando essa
qualidade não é obtida”. Ver Crosby www.philipcrosby.com.br/pca/c.pnc.html. 10
ações de Qualidade sobre os custos das empresas, especialmente os incorridos
devido às falhas internas e externas nos produtos. Desde então, cresceu o
interesse dos escalões superiores das empresas, na medida em que Juran
demonstrou, baseado em fatos e dados, que ações de Qualidade voltadas para a prevenção
provocariam a redução dos custos totais, sendo, portanto, uma "mina de
ouro". Os Custos Totais de uma Empresa13 compreendem todos os esforços e
recursos que são investidos para o fornecimento de produtos e serviços aos
clientes. Os Custos de Produção compreendem os gastos com materiais diretamente
consumidos, com mão-de-obra direta, com equipamentos utilizados e tecnologia
empregada. Os Custos de Fabricação são a soma dos Custos de Produção com os
Custos Indiretos de Produção, tais como gastos com engenharia, projeto,
pesquisa e desenvolvimento, controle de produção, manutenção além dos insumos
utilizados, salários e gastos administrativos associados a estas atividades de
apoio à produção. Custos de Fabricação = Custos de Produção + Custos Indiretos Os
Custos de Comercialização são compostos pelos custos de marketing, de vendas e
de distribuição dos produtos e serviços. Os Custos Totais da Empresa englobam
os Custos de Fabricação e os Custos de Comercialização, além de outros gastos
indiretos como impostos, aluguéis, energia etc. Custos Totais = Custos de
Fabricação + Custos de Comercialização + Outros Nos Custos Totais da Empresa
figuram os Custos Totais da Qualidade, que podem ser contabilizados
explicitamente numa organização. Estes custos estão associados à produção,
identificação, prevenção ou correção de produtos e serviços que não atendam
requisitos, sendo classificados em quatro categorias: • Custos de Prevenção •
Custos de Avaliação • Custos da Falhas Internas • Custos das Falhas Externas Os
Custos de Prevenção são todos aqueles incorridos no esforço de fazer certo na
primeira vez, ou seja, evitar a ocorrência de defeitos. Inclui atividades de
planejamento, engenharia da Qualidade, desenvolvimento de novos produtos e
serviços, projeto dos produtos ou serviços, planejamento de fabricação,
controle de processo, treinamento, aquisição e análise de dados da Qualidade,
projeto e desenvolvimento de equipamentos de controle da Qualidade, calibração
e manutenção de equipamentos, seleção e desenvolvimento de fornecedores,
manutenção preventiva dos equipamentos de produção. Os Custos de Avaliação
estão associados às atividades de medir e avaliar as características da
Qualidade dos produtos ou serviços, os componentes ou os materiais utilizados
para assegurar conformidade com especificações. Esta categoria cobre
principalmente os custos de mão-de- 13 Maia, W. R. & Barçante, L.C. (
1990). obra e equipamentos de teste necessários para a realização de inspeção e
ensaios de matériasprimas, produtos em processamento e produto final. Os Custos
das Falhas Internas surgem quando produtos, componentes, materiais ou serviços
não atendem aos requisitos da Qualidade e as falhas são descobertas antes da
entrega do produto ou prestação do serviço ao cliente. Incluem perda de mão-de-obra
e materiais devido a produtos refugados, custo de recuperações e retrabalhos,
análise das falhas, atraso na linha de produção, reensaio e rebaixamento de
preço. Aqui também devem ser considerados o excesso de produção, máquinas e
materiais alocados previamente para compensar a perda interna futuramente
esperada. Os Custos das Falhas Externas ocorrem quando o produto entregue ou o
serviço prestado ao cliente não apresenta a Qualidade esperada. Incluem custos
de devolução e substituição dos lotes de produtos vendidos, custos de
administração de reclamações, assistência técnica e garantia, e processos de
responsabilidade civil. Outros custos também são considerados indiretos, tais
como perda de reputação no mercado, perda de vendas futuras e perda de
participação no mercado. A Figura 1.1 mostra a relação entre os Custos Totais
antes e depois de se trabalhar os Custos da Qualidade. No gráfico CT1, lado
esquerdo da figura, vemos que na maioria das empresas os Custos de Prevenção e
Avaliação são, via de regra, menores do que os Custos de Falhas Internas e de
Falhas Externas. Já no gráfico CT2 vemos que ao investirmos nos Custos de
Prevenção e de Avaliação, no médio prazo os Custos de Falhas Internas e
Externas tendem a reduzir a ponto de que o Custo Total diminua.
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